Sepultura tem a dissonância do álbum 'Chaos A.D.' dissecada com perfeição no 29º título da série 'O livro do disco'

Sepultura na foto imortalizada na contracapa do álbum 'Chaos A.D.' (1993) Gary Monroe / Reprodução ♫ OPINIÃO SOBRE LIVRO Título: Sepultura – Chaos A.D....

Sepultura tem a dissonância do álbum 'Chaos A.D.' dissecada com perfeição no 29º título da série 'O livro do disco'
Sepultura tem a dissonância do álbum 'Chaos A.D.' dissecada com perfeição no 29º título da série 'O livro do disco' (Foto: Reprodução)

Sepultura na foto imortalizada na contracapa do álbum 'Chaos A.D.' (1993) Gary Monroe / Reprodução ♫ OPINIÃO SOBRE LIVRO Título: Sepultura – Chaos A.D. – O livro do disco Autor: Vinicius Castro Cotação: ★ ★ ★ ★ ★ ♬ Não é preciso ser metaleiro ou seguidor da banda Sepultura para entender e degustar a saborosa narrativa orquestrada pelo jornalista Vinicius Castro no 29º título da série O livro do disco, coleção criada pela editora Cobogó com assumida inspiração na similar norte-americana 33 1/3. Ao discorrer sobre a gênese, o impacto e as influências do álbum Chaos A.D. (1993), disco que simbolizou decisivo ponto de virada na trajetória fonográfica do grupo mineiro de thrash metal, Castro apresenta texto coloquial, escrito com precisão e objetividade jornalística a partir de pesquisa sobre o álbum e de entrevistas com integrantes da banda na época (Andreas Kisser e Max Cavalera), roadies e membros de fã-clubes, entre outros nomes também importantes, como Michael Whelan, criador da arte da capa, afinada com o tom crítico do repertório do disco. A contextualização é perfeita. Antes de dissecar Chaos A.D., quinto álbum de estúdio na cronologia fonográfica do Sepultura, o autor mostra como se construiu a cena de heavy metal no Brasil a partir dos anos 1980 e mapeia os caminhos do Sepultura, disco a disco, até chegar ao álbum de 1993 que causou estranheza pelas dissonâncias, pelas pausas e sobretudo pela incorporação pioneira de elementos da música brasileira. A revolução era perceptível no groove da bateria de Iggor Cavalera, ritmista desde a infância fascinado pelo batuque das escolas de samba, mas também na guitarra de Andreas Kisser, criador de inusitados riffs percussivos. A explosão planetária do álbum anterior da banda, Arise (1991), fez com que o Sepultura extrapolasse fronteiras em turnê mundial. Foi do exterior que Andreas Kisser, Iggor Cavalera, Max Cavalera e Paulo Xisto Júnior olharam para dentro da cultura do Brasil e concebesse Chaos A.D., álbum que abriu caminho para o sucessor Roots (1996) ao mesmo tempo em que mostrou uma banda em contínua evolução, sempre virando o disco a cada lançamento. Capa do livro 'Sepultura – Chaos A.D. – O livro do disco', de Vinicius Castro Divulgação Antes do tradicional faixa-a-faixa, marca da coleção O livro do disco, Vinicius Castro repisa cada passo do Sepultura na confecção de Chaos A.D. – a começar pela escolha acertada do produtor Andy Wallace. A gravadora Roadrunner chegou a sugerir Garth Richardson, que já havia produzido a banda Rage Against the Machine, mas a ideia foi recusada pelo Sepultura. Na sequência, o autor dá detalhes técnicos da gravação do álbum, realizada primeiramente no Woo Hall Studio (na Inglaterra) e finalizada no Rockfield Studios (no País de Gales). Outros tópicos do texto são dedicados à criação da capa – que expõe obra inédita criada pelo artista visual Michael Whelan para a embalagem de Chaos. A.D. – e à sessão de fotos com Gary Monroe. As ações de marketing durante o lançamento do disco, em outubro de 1993, também são objetos de análise. Com informações esmiuçadas, Castro costura narrativa fluente que jamais soa pesada. Pesado é somente o som do álbum, recebido com entusiasmo pela crítica musical do Brasil e do exterior (e por ouvintes antenados como o guitarrista Lucio Maia, entrevistado pelo autor), mas também com espanto na ala mais radical da comunidade headbanger. Afinal, em 1993, era heresia uma banda de thrash metal apostar no groove e inserir toque de samba no som. Contudo, o tempo transformou o álbum Chaos A.D. em justa unanimidade e músicas como Refuse / Resist e Territory se tornaram recorrentes desde então nos roteiros dos shows do Sepultura. Sem deixar que a própria devoção ao álbum contamine a narrativa com a passionalidade típica dos fãs, Vinicius Castro faz raio x do raivoso e enérgico Chaos A.D. com texto sempre bem fundamentado. Não ficou ponta solta. A contextualização precisa facilita o mergulho no universo desse álbum dissonante que fez o Sepultura – e, consequentemente, o metal do Brasil – crescer aos olhos do mundo em movimento que reverbera ainda hoje. Capa do álbum 'Chaos A.D.', da banda Sepultura Arte de Michael Whelan

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